a necessidade de “quebra” do paradigma dominante para um tempo de não-determinismos.
Pietrobon, Sandra Regina Gardacho. A prática pedagógica e a construção do conhecimento científico.
Resenhista: Débora Oliveira Campelo
O artigo de Sandra Regina Gardacho Pietrobon, aluna do Mestrado em Educação da PUC-PR e professora do curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Centro Oeste, intitulado: A prática pedagógica e a construção do conhecimento científico, tem como objetivo apresentar a evolução do conhecimento de forma sucinta mostrando suas rupturas. Apresentar a influência do paradigma dominante da ciência nas áreas do conhecimento. E também apontar discussões acerca do paradigma emergente, e sua relação e relevância na pratica docente e a transformação dos discentes a partir da mesma.
Durante toda história da humanidade até a contemporaneidade passamos por varias formas de se conceber o conhecimento. Mas, afinal o que é conhecimento? Conhecer é tornar coerente, inteligível, possível de ser explicado, para isso se faz necessário uma relação entre o sujeito e o objeto (o ato de conhecer), onde a partir de conhecimentos prévios o sujeito explica a “coisa” a ser conhecida.
A autora faz um pequeno historiar para nos mostrar a evolução do conhecimento até chegar no estado atual dele para isso passa pela Grécia Antiga, Idade Média e Renascimento nos apresentando o conhecimento justificado pela fé até a visão antropocêntrica do séc. XIII. Mas o ponto que será abordado durante boa parte deste artigo é o conhecimento a partir da modernidade, pois ai é que acontece a separação do conhecimento filosófico e cientifico, onde a influencia teológica dá lugar a uma perspectiva racional onde normas e formas de organização e conhecimentos deixam de ser absolutas e indiscutíveis, favorecendo a um espírito critico e objetivo diante dos fenômenos sociais.
Um ponto importante também é a relevância dada ao positivismo já que Comte vem considerar a ciência paradigma para as outras formas de conhecimento, estabelecendo a lei dos Três Estágios, e a partir dela hierarquizou as ciências. O positivismo tem como característica do seu método a anulação do individuo, observação e experiência, mas foi tido como insuficiente no estudo do homem e da sociedade.
As ciências humanas então criaram seu próprio modelo de ciência que se constituiu de três estágios a ruptura, a construção e a constatação, mostrando que o conhecimento não se dá de forma passiva, mas, ativa através de estágios de movimentos. Em outro momento do artigo a autora nos apresenta o significado de paradigma para falar da influencia do mesmo (dominante) nos campos do conhecimento, para isso utiliza KUHN (1994, p. 218). Aqui utilizarei o que mais achei de acordo, onde traz o paradigma como soluções concretas, valores, modelos exemplos e etc..., partilhadas por membros de uma determinada comunidade, permitindo a compreensão e explicação de aspectos de realidade. Utiliza também Morin dizendo que é uma relação dominadora e determinante para o curso de todas as teorias, noção nuclear lingüística e ideológica. E por fim utiliza-se de Capra para ampliar o sentido da palavra, concebendo o mundo como um todo e não dicotômico.
A autora faz uma critica ao sistema escolar vigente mostrando a influência do paradigma dominante nas salas de aula, na medida que influencia normas e padrões comportamentais aprisionando o individuo e tornando-o passivo, sendo o professor altamente mecânico em suas ações, não movendo o aluno na busca de conhecimentos. Para melhor explicar seu pensamento a autora passa rapidamente por três abordagens do ensino a Humanista, a Escalonovista e a Tecnicista tidas como reprodutoras de conhecimento influenciadas pelo paradigma dominante.
Coma crise do paradigma dominante que se deu a partir da física quântica e do teorema da incompletude e da impossibilidade, nos progressos da química da física e da biologia. Surge um novo tempo de não determinismos, de interpretação e não mecanicismo, dando espaço ao conhecimento crítico necessário aos sujeitos no sentido de “quebrar” com a passividade e a submissão. Sendo necessário para isso investir em profissionais e em sua formação, atualização, satisfação pessoal e profissional, para que a escola não continue parada no tempo. O profissional deve ter autonomia para decidir sobre seu trabalho e suas necessidades, estar sempre em busca de novas respostas e novos caminhos e não simplesmente ser um cumpridor de ordens e tarefas, deve-se romper com o individualismo pedagógico, ser um educador cheio de inquietudes, curiosidades, e em busca constante de conhecimentos, reforçando e proporcionando fundamentos e se mantendo a par das inovações e exigências da atualidade. Faz-se necessário, estar em processo constante de ação-reflexão-ação, sabendo observar a si próprio e se auto-avaliar, lidando com pensamentos divergentes, com diferenças culturais e socioeconômicas. Estar em eterno processo de construção, desconstrução e reconstrução, pois sempre há a possibilidade de mudança, de contradição para assim surgir novas descobertas.
O educador deve estar aberto ao conhecimento, percebendo o mundo que está fora da sala de aula, para melhor perceber seu aluno, saber do que ele precisa, e qual a linguagem para obter um melhor dialogo com ele, obtendo dessa forma um encontro. Isto não pode de forma nenhuma, encontra-se somente em um lindo discurso, mas, deve ir para prática diária de um educador no sentido de superar a visão fragmentada de conhecimento, ampliando-a para isso a autora sugere a “visão sistêmica ou holística, com abordagem progressista (embasada em Paulo Freire) e o ensino com pesquisa” no sentido de não dar deixar espaços para a reprodução do saber por partes de educando e educadores. A autora deixa como proposta a pedagogia relacional no intuito de perceber o aluno como ser em constante processo de aprendizado.
A discussão sobre currículo e suas teorias faz-se de suma importância para a sociedade acadêmica que vive um processo de (r)evolução em relação as teorias mencionadas, buscando diminuir as desigualdades hierarquizadas do conhecimento, dando a abertura a outras áreas de estudos (gênero, raça/ etnia, relações de poder e diversidade cultural), desejando que se faça a concretização destes pensamentos e discussões.
A escola é uma instituição reprodutora de uma cultura e o currículo é o meio por qual se é difundida a mesma. Digo “uma” cultura, pois através do currículo ainda é disseminada conhecimentos, normas, símbolos, crenças e discursos que limitam, separam, que desqualificam e que estipulam o que é “bom” e “ruim” de maneira errônea. Precisamos de um currículo democrático libertário que rompa com o paradigma dominante, tradicional, conservador, que seja ponta de chegada e partida, que nos dê a oportunidade de exercer-mos de forma ampla nossos saberes.
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